Lisboa, 25 de Junho de 2011.
Esta fotografia pode até não ter nenhum interesse para os mais perfeccionistas ou algo que se pareça. Para mim, esta fotografia diz-me muito porque depois de eu ter fotografado estas três pessoas que, de logo, parecem muito diferentes, aconteceu uma coisa à qual achei piada. A senhora de pé nem sequer deve ter reparado nas duas personagens sentadas na montra, tanto que seguiu o seu caminho e nem olhou para trás. Isto acontece com 90% (ou mais) das pessoas que passam por mendigos ou sem-abrigos. Eu confesso que também sou assim, não porque não queira ajudar, mas por vergonha ou medo. É um sentimento que não sei descrever... Ah! Já estou a fugir ao assunto. Voltemos então às personagens seguintes: o senhor continuou ali sereno, apanhando as beatas do chão como é hábito e a única coisa que fui capaz de fazer foi dizer-lhe "boa tarde". Sorriu e mostrou os seus únicos belos cinco ou seis dentes. Na verdade foi um sorriso simpático que me deu bastante gozo receber naquela altura de muito calor... A senhora do leque idem, mas assim que me aproximei dela para ver a saia da montra, levantou-se e esperou que eu saísse de lá. Provavelmente achara que eu me estava a sentir incomodada com a sua ténue presença naquele sítio. Pelo contrário, acho que completava (e bem!) a montra. Posto isto, segui em frente e ao dar uns dez passos, olhei para trás e vi a senhora sentar-se novamente a sorrir. Que simpatia! Se todos fossemos assim, simples, humildes e sorridentes, a nossa vida tornava-se mais simples e menos infeliz.
